MÚSICAS

01.  Afluente das Diferenças 3’49
_Edson Natale

Edson Natale - violão
Nailor Proveta - clarinete
Toninho Ferragutti - acordeon
Mauricio Badé - congas, maracas e bolachão

02. Afluente dos Lugares 6’12
_Edson Natale
esta música é dedicada à memória de  Milton Santos

Edson Natale - violão
Ana Karina Sebastião - contrabaixo
Alex Braga - violino
Webster Santos - bandolin
Maurício Badé - percussão
Hugo Hori - flauta
Luz Ribeiro – voz em Noite Pacífica (em português)
Gabriel Natal – voz em Noite Pacífica (em árabe)
Vanessa Moreno - vocal
Salloma Salomão (português), Debora Pill (alemão), Gabriel Natal (grego), Danilo Salgado (português e inglês), Fernando Velazquez (espanhol) e Fernanda Ramone (chinês) – voz em "cada lugar é, a sua maneira, o mundo"

Noite Pacífica
_Edson Natale

Acorda, assopra, desmancha as nuvens
e guarde prá sempre na memória
a cor dessa noite pacífica;
essa pequena grande noite de abismos,
desejos, hormônios e sede.

Não acredite que já não é mais aqui
o lugar onde vivem cientistas, poetas,
artistas, professoras, pescadores, jornalistas.
Foi um enterro e nenhum morto?
Uma anistia e ninguém solto?

Este é o lugar
em que o manto eterno da liberdade
protege o amor; é o pedaço da terra
onde o aviso da floresta tarda, mas não falha.

Somos um desejo de vento e tempestade,
um esforço, uma crise,
um desespero que passa e vira colo,
inteligência, acalanto e resistência.

É lúcido o final da historia que não termina nunca.
É quase um filme. E é de esperança. 
Aldeias, quilombos, esquinas, templos e quintais.
Somos um bilhete de Milton Santos que ensina:
cada lugar é, a sua maneira, o mundo
Brumadinho, Mariana, Raposa Serra do Sol,
Terreiros, Mesquitas, Sinagogas, Igrejas,
Alepo, Ramalah, Estelita, Xingú.
cada lugar é, a sua maneira, o mundo
cada lugar é, a sua maneira, o mundo.


03. Afluente do Futuro  5'09
_Edson Natale

Edson Natale - violão
Ronaldo Gama – contrabaixo
Beatriz Pacheco - sax soprano
Danilo Rocha - sax alto
Leonardo Brandão - sax tenor
Wellington Souza - sax baritono

Nailor Proveta - clarinete
Vanessa Moreno - vocal
Maurício Badé – percussão

Arranjo para sopros: Nailor Proveta
Integrantes do quarteto Saxofonando

04. Afluente das Contradições  6'00
_Edson Natale

Edson Natale - voz e violão
Gustavo Ruiz - guitarra e sintetizador SH-2000
Patrícia Ribeiro - cello
Paulo Freire – viola

arranjo para violoncelo: Patrícia Ribeiro

Ismália  
_Alphonsus De Guimaraens  (1870 - 1921)

Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar

No sonho em que se perdeu
Banhou-se toda em luar
Queria subir ao céu
Queria descer ao mar

E num desvario seu
Na torre pôs-se a cantar
Estava perto do céu
Estava longe do mar

E como um anjo pendeu
As asas para voar
Queria a lua do céu
Queria a lua do mar

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par
Sua alma subiu ao céu
Seu corpo desceu ao mar


05. Afluente das Intuições  6'08
_Edson Natale

Edson Natale - violão tenor
Tuco Marcondes - banjo
Ná Ozzetti - voz
Alex Braga - violino
Maurício Badé - percussão
João Taubkin - guembri
Gustavo Ruiz - tampura eletrônica


06. Afluente dos Afetos e das Festas 5'48
_Edson Natale _Lincoln Antonio

esta música é dedicada à Lydia Hortélio

Lincoln Antonio - piano
Manoel Cordeiro - guitarra
Edson Natale - voz
Mauricio Badé - percussão
Vanessa Moreno - voz


07. Afluente das Palavras  4'20
_Edson Natale _Sérgio Vaz _Mauricio Pereira

Edson Natale - voz
Sérgio Vaz - voz
Maurício Pereira - teclado e  voz
Elizah Rodrigues - voz
Paulo Brandão - contrabaixo
Maurício Badé - conga, ganzá, guiro, cuíca e gonguê
Gustavo Ruiz - guitarra

Guardiões e Guardiãs das Palavras
_Edson Natale

Alê Verequete alê alê Assuan
Alô aluão issô issô Conceição

Adon aludon uon uon seu Drummond
Aliva pativa alã elá Patativa

Afoz duluóz alí Raquel de Queiróz
Alías calías ahh alô Abdias
Issê Pererê uê Ilê Aiyê
A foz iagrosa salve Mário Pedrosa

Cabana holograma trí: Mário Quintana
Ôlúz oloruz Carolina de Jesus
Patusca patusca tué Macalé
Turmá turmalinaah Corá Coralina

Alaje oralaje ei reinô Sabotage
quitriz  porumtriz revi duonprá  Ruiz
Aládabalada esquino di Marcelino
Umleque dealpiste játalá Hilda Hilst

Rapábaloteli Ana Laura Estaregui
RuandaLuanda euquiví Chimamanda
Eiraquebeira uté Mané Bandeira
Pracávenumtrago ora poisé Saramago

Láemsamarcanda viva Chico de Hollanda
Atrí aturí uí amá Clementina
Turi buriti uí uí Acarí
Ciata, Ciata oleque em Satolep
Jarid, Jarid amadodí Jorge Amado

Nagib Mahfouz olé alô prá Maré
Tolstoi Yanomami afá mirá  Cooperifa
Machado e Chiquinha alinha Mãe Menininha
Wole Soyinka unguelo Sophia de Mello

Elibrum Altamira atuí Suelí
Carneiro carneiro assô Darci Ribeiro
Ê dag Tia Dag Solano Trindade
Ligia Fagundes éto Torquato Neto

Ita prá Assumpção arrozal lá prá Boal
Clarice olaria alândia ilá Brasilândia
Trisca Emicida Ramos Graciliano
A trí ussurí uí amá aturá

Iví Milton Hatoum ileque Aline Valek
Ijáque Krenak amuê coloreê
Uzédi Ferrez uéli di Mutarelli
Tuk Clara Averbuck tuk tuk luruque

Salloma Salloma tião Salomão
O jorrodojarro plantá Manoel de Barros

Mariô di trindade arrê tem Mário de Andrade

Gravuramistura  Leonardo Padura

Lenhalareto flor de Lima Barreto
Umflerte Laerte um ítalitá Inezita
Lurinsqui Leminsky bêradi Zé Limeira
Élá Refavela endaná Refazenda


Palavras ao vento
_Edson Natale

Palavras ao vento
Jamais deixarão de ventar.
Pousam aqui e ali em múltiplos ouvidos.

Lembrem-se disso quando sentirem o vento
e nele as palavras ventadas por Paulo Freire, Marielle Franco,
Milton Santos, Zuzu Angel, Raquel Trindade e Nise da Silveira.
Honrem o vento...e as palavras.


Escrever dói
_Sergio Vaz

Num país onde ninguém lê
escrever é quase um sacerdócio.
Ao contrário do que muitos pensam
ser poeta não é um privilégio: é um castigo.

Porque escrever dói, arranca pedaços
e deixa marcas profundas no coração.
Muitas vezes ele desce até o inferno
para que o leitor suba ao céu
e leia sua dor como se fosse dor alheia:
é a magia das palavras.

Escrever é sangrar um pouco todo dia
na presença de testemunhas
que assistem a tudo,
mas não podem fazer nada.

E de tão trágico,
os poetas mergulham em poça de letras
feito quem se afoga no fundo do mar:
É quando um poema prende a respiração
para que outra pessoa possa respirar.


Uma enxurrada de palavras
_Maurício Pereira

Uma enxurrada de palavra, lavra,
trava, cala, trava, arquitetura de palavra,
meio rítmico: tudo bem, tudo bem, tudo bem?

Uma enxurrada, caindo, enxurrada,
enxurrada de palavra, enxurrada, forte, jorro:
tudo bem? Meio rítmico: tudo bem, tudo bem?

Caindo com força num rio, o rio maior
sujo, poluído, seco.
De vez em quando uma enxurrada de palavra
meio rítmica: tudo bem, tudo bem?
Palavra, uma enxurrada de palavra,
sufoco esmaga a palavra, jorro:
tudo bem? Meio rítmica:
tudo bem, tudo bem, tudo bem?

Uma enxurrada de palavra.
A cachoeira de palavra.
Uma enxurrada de palavra caindo no rio,
o rio tranquilo, plácido: tudo bem, tudo bem?
meio rítmico: tudo bem, tudo bem?

Com um barulho tremendo,
barulho que só a palavra: tudo bem?
meio rítmico: tudo bem?
...que só a palavra é capaz de fazer.
Palavra baixa, baixinho,
palavra baixa, baixinho, baixinho:
tudo bem, tudo bem?

A palavra baixa é mágica,
faz um barulho danado: tudo bem, tudo bem?
meio rítmico: tudo bem, tudo bem?
se não é rítmico também: tudo bem, tudo bem?

Essa palavra, calada, travada, ensimesmada,
enxurrada de palavra, caindo num rio plácido,
flácido, marrom escuro feito um puxa-puxa,
rítmica: tudo bem, tudo bem, tudo bem, tudo bem?

Uma enxurrada de palavra,
que nunca acaba, que nunca para: cala, trava.
Quem é esse cara?
Palavra, enxurrada, fluxo,
uma enxurrada de palavra,
caindo num rio marrom escuro:
tudo bem, tudo bem?
Fede um pouco: tudo bem?
É tóxica: tudo bem, tudo bem, tudo bem?
Uma enxurrada de palavra,
vai com calma palavra,
estrutural: tudo bem?
jorro, palavra, et cetera e tal.



FICHA TÉCNICA

Este disco é resultado de minha participação como aluno do curso de pós graduação em Gestão cultural contemporânea: da ampliação de repertório poético à construção de equipes colaborativas, do Itaú Cultural e liderado por Valéria Toloi. Neste trabalho meu orientador foi Tiganá Santana e a arguidora, Tatiana Schunk.

Direção geral - Edson Natale e Gustavo Ruiz
Gravado nos estúdios Brocal, Pele Preta e Space Blues
Mixagem - Ricardo Mosca
Masterização – Felipe Tichauer
Obra da capa e design - Fernando Velázquez
Assessoria de comunicação – Debora Pill
Assessoria jurídica – Fernando Yazbek

AGRADECIMENTOS

Adriana Moreira, Alemberg Quindins, Alex Braga, Ana Karina Sebastião, Anna Paula Montini, Aninha de Fátima, Bárbara Soalheiro, Bia Pacheco, Bruna Alencar, Bruna Ferreira da Silva, Carlos Augusto Calil, Carlos Costa, Christian Dunker, Claudiney Ferreira, Daniela Klaiman, Danilo Rocha, Danilo Salgado, Débora Pill, Diego de Jesus, Eduardo Saron, Eliana Sousa Silva, Elizah Rodrigues, Erica Buganza, Felipe Tichauer, Fernanda Albuquerque, Fernanda Ramone, Fernando Velazquez, Fernando Yazbek, Flávio Desgranges, Fulvia Sannuto, Gabriel Natal, Galiana Brasil, Geisa Lino, Gersem Baniwa, Gilberto Labor, Gustavo Ruiz, Hugo Hori, Jader Rosa, Jailson Sousa e Silva, João Cézar de Castro Rocha, João Taubkin, Jochen Volz, Jorge Menna Barreto, Jota Mombaça, Jurema Machado, Káritas Ribas, Leno  Veras, Léo Brandão, Lincoln Antonio, Lourenço Mutarelli, Luz Ribeiro, Manoel Cordeiro, Márcia Salgado, Marcos Cuzziol, Maria Adrielle Vicente, Maria Thais, Mariah Portugal, Mariana Fonseca, Mariana Lacerda (por ter me apresentado Ismália), Marília Neustein, Maurício Badé, Mauricio Bussab, Maurício Pereira, Mônica Hoff, Ná Ozzetti, Natália Souza, Neka Menna Barreto, Nina Santos, Nailor Proveta, Patrícia Ribeiro, Paulo Brandão, Paulo Freire, Pena Schmidt, Rejane Cantoni, Renato Corch, Renato Gama, Ricardo Herz, Ricardo Mosca, Ronaldo Gama, Salloma Salomão, Sérgio Miyazaki, Sérgio Vaz, Sidnei Cruz, Sofia Fan, Tânia Rodrigues, Tati Prado, Tatiana Schunck, Tayná Menezes, Thays Heleno, Tiganá Santana, Tó Brandileone, Toninho Ferragutti, Tuco Marcondes, Valéria Toloi, Vanessa Moreno, Verônica Ferriani, Webster Santos,  Wellington Martins e a toda equipe do Itaú Cultural.